cover
Tocando Agora:

Horóscopo do dia

Banho de cheiro, cacau selvagem, açaí do pé: como a COP 30 coloca Belém no mapa do turismo sustentável

Rota Caratateua Viva!: COP30 coloca Belém no mapa do turismo sustentável Você desembarca em Belém para acompanhar os debates da COP 30 e, entre uma plenári...

Banho de cheiro, cacau selvagem, açaí do pé: como a COP 30 coloca Belém no mapa do turismo sustentável
Banho de cheiro, cacau selvagem, açaí do pé: como a COP 30 coloca Belém no mapa do turismo sustentável (Foto: Reprodução)

Rota Caratateua Viva!: COP30 coloca Belém no mapa do turismo sustentável Você desembarca em Belém para acompanhar os debates da COP 30 e, entre uma plenária e outra, descobre que a Amazônia que sempre apareceu em relatórios climáticos está bem perto: no cheiro da mata depois da chuva, na canoa que atravessa igarapés, na panela de açaí recém-batido na beira do rio. Com a COP 30, Belém vive um momento decisivo para a diplomacia climática e para o fortalecimento do turismo sustentável na Amazônia que gera renda para as comunidades locais sem destruir o meio ambiente nem desrespeitar seus modos de vida. Nas ilhas que circundam a capital, como Combu, Caratateua e Cotijuba, e nas comunidades que integram a Grande Belém, projetos de turismo de base comunitária ganham evidência e mostram, na prática, como desenvolvimento e preservação podem caminhar juntos. Para quem chega ao Pará, a imersão passa por sabores que tremem na boca, trilhas que seguem o ritmo da maré, manhãs de carimbó no quintal e oficinas conduzidas por ribeirinhos, mestres da cultura popular, artesãs, agricultores e jovens extrativistas. É banho de cheiro com ervas e folhas da Amazônia, cacau selvagem que nasce na floresta, açaí colhido do pé e preparado ali mesmo, na beira d’água. Turismo ecológico convida visitantes a conhecerem a Belém ribeirinha. Na foto, vista aérea da Ilha do Combu, a 15 minutos do centro da capital Rota Combu É uma Amazônia apresentada por quem a vive: agricultores, extrativistas, artesãs, ceramistas, mestres da cultura popular e jovens ribeirinhos que veem no turismo sustentável um caminho de renda e permanência em seus territórios. “A COP 30 acelera processos que já vinham sendo construídos, mas que agora ganham mais fluxo, visibilidade e investimento. Ela funciona como um catalisador de iniciativas que antes atuavam de forma isolada. Um movimento impulsionando bionegócios, qualificando experiências e mostrando que o turismo na Amazônia vai além do lazer. É uma ferramenta de conservação, geração de renda e valorização cultural”, avalia Tainah Fagundes, conselheira da ASSOBIO e cofundadora da Da Tribu. “Estamos aproveitando esse momento histórico para deixar um legado duradouro para o território e para as comunidades que constroem a sociobioeconomia todos os dias”, completa. Segundo o Sebrae Pará, a COP 30 acelerou formações, certificações e a organização de empreendimentos comunitários, e trouxe uma oportunidade concreta para a cidade se posicionar como referência em turismo de natureza, cultura e sociobioeconomia. “A COP intensificou nossa preparação e colocou o Combu e outras ilhas no mapa do turismo sustentável. Para os ribeirinhos, isso significa mais autonomia, renda e permanência na terra”, afirma Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae. Extrativista ribeirinho do Combu exibe um enorme cacho de açaí, fruto-símbolo do Pará Rota Combu O que visitar em Belém? Veja lista de opções de destinos turísticos na cidade das mangueiras Atrações em Belém no mapa do turismo sustentável Divulgação Rota Combu: a floresta a 15 minutos do centro de Belém De dentro da cidade, o visitante vê o Guamá correndo em frente ao Ver-o-Peso. O que muita gente descobre durante a COP 30 é que, do outro lado do rio, a poucos minutos de barco, existe uma floresta inteira organizada para receber quem chega com curiosidade e respeito. Formada por casas de palafita, hortas agroflorestais, cacau nativo e igarapés, a Ilha do Combu se tornou um polo de turismo sustentável com a Rota Combu, criada em 2025 pelo Sebrae Nacional, Sebrae Pará e Raízes Desenvolvimento Sustentável. O projeto reúne 14 empreendimentos, todos em processo de certificação com a Green Destinations, organização internacional referência em turismo responsável. Dona Nena, empreendedora do chocolate que trabalha com cacau 'selvagem', originário da floresta do Combu: sabor da Amazônia Rota Combu A experiência começa na travessia. O vento úmido no rosto, o som do motor da rabetinha, o horizonte se abrindo em tons de verde. Do outro lado, o tempo muda. O visitante passa a seguir o ritmo da maré, das colheitas, das cozinhas que acendem o fogo cedo para preparar peixe. Quem participa dos roteiros pode navegar por igarapés, caminhar em trilhas agroflorestais, conhecer o manejo de cacau, acompanhar a produção de chocolate, observar a fauna e experimentar uma gastronomia amazônica feita com jambu, tucupi e frutas nativas, tudo apresentado por quem nasce e cresce nesse território. “A Rota Combu não é só turismo: é reconexão com a floresta, com a comida feita no fogo, com o tempo da maré e com o jeito ribeirinho de viver”, explica Mariana Madureira, coordenadora da iniciativa. No passeio, um dos destaques é Dona Nena, ribeirinha que transforma o cacau nativo da ilha em chocolate há quase 20 anos e hoje é referência de empreendedorismo na floresta. Desde 2006, quando começou a produzir chocolate artesanal na própria cozinha, ela desenvolve uma tecnologia ancestral em que a floresta dá o fruto, os povos ribeirinhos colhem, secam as sementes e produzem um chocolate de terroir único, literalmente “da floresta à barra”. A fábrica, erguida sobre palafitas no meio da mata, virou parada obrigatória de turismo de imersão e símbolo de bioeconomia: em 2024, recebeu o presidente da França, Emmanuel Macron, ao lado do presidente Lula, em uma visita que colocou o cacau do Combu no radar internacional. Ensaio de Lula e Macron no Pará viralizou nas redes sociais Ricardo Stuckert/PR Dona Nena faz questão de lembrar que cada barra depende da saúde do território. “Cada barra de chocolate depende da saúde do nosso território. Todo o processo acontece dentro da mata, com o cacau crescendo debaixo das árvores e se alimentando da própria floresta. Trabalhando assim, a gente aprende a ter ainda mais respeito por tudo que ela oferece.” Fortalecido, o turismo sustentável tem entusiasmado moradores e empreendedores da ilha. “Antes, a gente recebia visitantes de forma solta. Agora temos roteiro, formação, comunicação e segurança para trabalhar. Isso dá orgulho e garante renda para a comunidade”, afirma Boaventura Carneiro Jr., morador e empreendedor local. Veja os destinos da Rota Combu Sítio do Combu Gourmet – gastronomia local com ingredientes amazônicos Oficina de Artesanato Ribeirinho – técnicas com materiais da floresta Passeio Agroflorestal – manejo e cultivo sustentável Tour de Bioeconomia – empreendimentos de conservação e renda Experiência do Jambu e Tucupi – preparo e degustação Rota do Cacau e Chocolate – cacau nativo e produção artesanal Observação da Fauna e Flora – biodiversidade amazônica Circuito de Saberes Tradicionais – práticas culturais ribeirinhas Passeio de Canoas Históricas – navegação tradicional Vitrine de Empreendimentos Sustentáveis – feira de produtos da comunidade Experiência Noturna da Floresta – observação noturna guiada Trilha da Castanha e Frutas Nativas – colheita e manejo Visita ao Apiário Comunitário – produção de mel e polinização Laboratório de Educação Ambiental – oficinas sobre conservação Roteiro abre com as boas vindas do carimbó Pau & Corda na beira do rio Divulgação Caratateua Viva!: cultura viva e turismo comunitário em Outeiro Se no Combu a floresta abraça o visitante, em Caratateua, nome em tupi da Ilha de Outeiro, é a cultura popular que chama pelo corpo. O Caratateua Viva!, lançado durante a COP 30, convida quem chega a viver um dia inteiro de imersão com mestres e mestras da ilha. A jornada começa com café da manhã ribeirinho: tapioca, peixe, frutas, café passado na hora. Logo depois, a batida do carimbó toma conta do espaço. Visitantes são convidados a entrar na roda, aprender passos, ouvir histórias, entender o sentido das músicas e das festas. “O que fazemos aqui é receber as pessoas como fomos ensinados: com música, comida e história. Quando o turista participa, ele ajuda a manter nossa cultura viva”, afirma Mestre João, ceramista do bairro São João. Roteiro inclui passeio de canoa pelas águas da ilha de Outeiro Divulgação Ao longo do dia, o grupo passa por oficinas de cerâmica, colheita de açaí, passeio de canoa e vivências agroecológicas. É um turismo que atravessa fé, arte, trabalho e território. Para Mãe Sandra, anfitriã da Casa de Mariana, o turismo comunitário também é uma forma de cuidado e de continuidade. “Mostrar nossa espiritualidade, nossa cozinha, nossas festas é mostrar quem somos. E isso gera renda para a comunidade inteira, não só para quem recebe os visitantes.” O Caratateua Viva! é uma realização do Sebrae Nacional em parceria com o BID e a Prefeitura de Belém, dentro do programa Turismo Futuro do Brasil (TFB), e se apresenta como um laboratório vivo de cultura amazônica contemporânea. Roteiro leva visitantes a ceramistas tradicionais da região: artesanato feito com barro da floresta Divulgação Caratateua Viva! — 12 experiências em Outeiro Grupo Parafolclórico Tucuxi e Regional Jurupari – carimbó, xote e lundu Casa de Mariana (Mãe Sandra) – fé, ancestralidade e acolhimento Cerâmica São João (Mestre João) – ofício ancestral do barro Atelier Cerâmico (Mestra Sinéia) – argilas coloridas e técnicas tradicionais Chalé Sítio de Maré – vivência agroecológica e gastronomia ribeirinha Terreiro Inzo Mukongo (Tatetu Kalité) – tradição bantu e formação cultural Biblioteca Tralhoto – leitura, memória e cultura popular Boi Misterioso (Mestre Apollo) – oficinas e apresentações de boi-bumbá Casa Preta (Don Perna) – quilombo urbano de arte negra Monturo do Urubu (Cordão do Urubu) – festas e ensaios juninos Cordão de Pássaro Tem-Tem (Profª Inaiá Paes) – lendas amazônicas em teatro e música Associação Cultural Colibri (Mestra Laurene) – um dos grupos mais antigos da ilha A famosa cachaça de jambu é um dos produtos da rota ASSOBIO Divulgação ASSOBIO: turismo às cadeias da sociobioeconomia Para quem chega pela primeira vez à Amazônia, poucas experiências surpreendem tanto quanto provar a famosa cachaça de jambu, no Meu Garoto. A bebida, feita com a infusão da planta típica da região, já cantada por Dona Onete e presente no imaginário brasileiro, provoca uma sensação imediata de formigamento nos lábios e na língua, efeito natural do espilantol. Não é só um drinque: é um ritual de boas-vindas amazônico, que mistura botânica, cultura popular e aquele tipo de descoberta que só o turismo de imersão proporciona. Entre os empreendimentos de sabor amazônico articulados pela ASSOBIO, a cachaça de jambu divide espaço com o cacau, a castanha, os óleos, os frutos e o artesanato produzidos por comunidades que fazem da floresta em pé a base da sua economia. A Associação de Sociobioeconomia da Amazônia atua fortalecendo uma economia baseada na sociobiodiversidade: produtos e serviços que vêm da mata e geram renda para as comunidades que cuidam dela. Roteiro do Açaí Sustentável mostra manejo do açaí com conservação ambiental e renda comunitária ASSOBIO Com 132 associados, a ASSOBIO criou itinerários que apresentam ao visitante toda essa cadeia, sempre com foco em preservação e geração de renda. Não é só observar: é caminhar pelas roças, ouvir como se decide o manejo, ver a organização coletiva, entender o que significa negociar preço e manter o território. O primeiro roteiro, no Sítio da Cruz, em Ananindeua, leva o público a acompanhar todo o processo de produção do chocolate amazônico: do cacau colhido ao sol na roça até a barra final que chega à mesa. “Queremos que as pessoas vejam e sintam como a sociobioeconomia funciona. É diferente quando a pessoa pisa na terra, cheira o cacau, conversa com quem planta e percebe que cada barra de chocolate é um pedaço de floresta em pé”, diz Tainah Fagundes. A produtora quilombola Luana Machado, de Moju, reforça essa ideia. “Quando mostramos nosso trabalho, mostramos também por que é importante manter a mata viva. O turista entende que sustentabilidade não é discurso, é o que garante que nossas famílias sigam aqui.” Até a COP30 terminar, a ASSOBIO prevê 11 roteiros que vão do manejo sustentável do açaí a vivências com comunidades quilombolas, passando por trilhas ecológicas, gastronomia tradicional e práticas de bioeconomia. ASSOBIO — Roteiros de Sociobioeconomia Roteiro do Açaí Sustentável – manejo do açaí com conservação ambiental e renda comunitária Turismo de Base Comunitária no Marajó – cultura marajoara, artesanato e modos de vida tradicionais Caminhos do Jambu – gastronomia amazônica e saberes culinários ancestrais Rota do Cacau e Castanha – produção artesanal de chocolate e castanhas nativas Turismo Ecológico no Utinga – trilhas, biodiversidade e áreas de preservação Roteiro das Comunidades Quilombolas – cultura, memória e práticas sustentáveis Rota do Cupuaçu e Bacaba – cadeias produtivas da bioeconomia amazônica Turismo de Experiência no Combu – vivências ribeirinhas e manejo agroflorestal Rota do Jatobá e Andiroba – uso sustentável de produtos florestais Caminhos do Guaraná – produção sustentável, história e técnicas tradicionais Turismo Cultural no Círio de Nazaré – festa, fé e práticas culturais sustentáveis VÍDEOS com as principais notícias do Pará