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Casa desaba na Vila da Barca, região de palafitas em Belém, e moradores denunciam 'racismo ambiental'

Uma casa desabou na madrugada desta sexta-feira (14) na Vila da Barca, bairro do Telégrafo, em Belém. Quatro pessoas que moravam no imóvel, entre elas uma cr...

Casa desaba na Vila da Barca, região de palafitas em Belém, e moradores denunciam 'racismo ambiental'
Casa desaba na Vila da Barca, região de palafitas em Belém, e moradores denunciam 'racismo ambiental' (Foto: Reprodução)

Uma casa desabou na madrugada desta sexta-feira (14) na Vila da Barca, bairro do Telégrafo, em Belém. Quatro pessoas que moravam no imóvel, entre elas uma criança e uma pessoa com deficiência, conseguiram escapar sem ferimentos, após ouvirem estalos que antecederam o colapso da estrutura. A queda atingiu ao menos três casas vizinhas, deixando famílias inteiras em situação de risco e incerteza. Vídeos gravados por moradores mostram o imóvel cedendo e sendo tomado pela maré da Baía do Guajará horas depois. Durante toda a manhã, vizinhos se mobilizaram para ajudar a retirar pertences antes que as águas avançassem. “A gente saiu porque a casa tava virando” O impacto da queda afetou as casas construídas sobre estacas de madeira. A diarista Anny Vieira, moradora da Vila da Barca há 15 anos, viveu a madrugada mais difícil da vida com seus três filhos, marido e um cachorro. “Foi horrível. Quando ouvimos o barulho, tentamos ajudar o vizinho, tirando os documentos da casa, ai desabou e o desespero foi grande, estamos sem dormir. Minha casa tá virando devagar. Com o estrondo da casa do vizinho, a minha rachou. Já estava com pouco risco… aí piorou. A Defesa Civil falou que precisamos sair urgentemente.” A família dela conseguiu tirar os móveis e documentos, mas a estrutura está comprometida. “Trabalhei muito para ter as minhas coisas. Só de pensar que minha casa está rachando e eu posso perder tudo… meu coração fica partido.” Outro vizinho, Márcio Aquino, também relata o susto. “Foi o vizinho que me chamou, me acordou… aí a casa tombou. Agora, a gente tem medo de dormir” Entre as casas afetadas está a de Patrícia Ribeiro, onde vivem dez pessoas. “A nossa estrutura tá comprometida. A gente tem medo de dormir aqui, medo de acontecer com a gente o que aconteceu com o nosso vizinho.” Na casa de Renata Medeiros, parte da estrutura precisou ser isolada. “É muito doloroso. A área mais atingida foi bloqueada. A gente tá com medo.” Defesa Civil, Habitação e Bombeiros acompanham o caso. Ao longo do dia, equipes do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil Municipal e da Secretaria de Habitação estiveram na comunidade para avaliar riscos e prestar auxílio emergencial. Famílias receberam kits de ajuda e a orientação de que deixem imediatamente as áreas instáveis. O presidente da Associação de Moradores da Vila da Barca, Gerson Siqueira, confirma os atendimentos. “Eles vieram, fizeram o primeiro atendimento e agora estão acompanhando a situação dessa família que perdeu tudo.” Racismo ambiental na sede da COP30 O caso reacende denúncias antigas sobre abandono e desigualdade territorial. A Vila da Barca, com mais de 100 anos de existência, é uma das maiores comunidades de palafitas da América Latina e segue sem saneamento básico, com lixo acumulado às margens da baía e solo em erosão constante. A líder comunitária Suane Barreirinhas aponta contradição entre a realidade local e os debates da COP30. “Enquanto estão lá na Blue Zone, na Green Zone, falando sobre racismo ambiental, a Vila da Barca está experimentando racismo ambiental na prática. Hoje uma casa caiu aqui.” Ela também questiona a diferença de investimentos. “São R$ 316 milhões para a obra da Doca, para um parque que não precisava acontecer. Para a Vila da Barca, só R$ 15 milhões.” Moradores denunciam ainda que a comunidade tem recebido entulho e resíduos de obras realizadas para o evento, além de sofrer com a instalação de uma estação elevatória de esgoto destinada a bombear dejetos de áreas nobres, sem beneficiar a comunidade. O Ministério Público Federal acompanha parte das reclamações desde agosto. Para as lideranças, o desabamento simboliza a desconexão entre os debates globais e a vida real nos territórios amazônicos. “Se fala muito em defesa do meio ambiente… mas abaixo da copa das árvores tem gente. E elas precisam continuar vivas e permanecer nesse território”, afirma Gerson, presidente da associação. LEIA TAMBÉM: Comunidade centenária de palafitas sem saneamento vai abrigar estação de esgoto de áreas nobres na capital da COP 30 VÍDEOS com as principais notícias do Pará